terça-feira, 11 de outubro de 2011

BATMAN ANTES DE NOLAN.

Filmes.
Batman antes de Nolan.

Não é novidade nenhuma que o famoso homem-morcego tem a sua carreira no cinema definida em antes e depois da trilogia (o terceiro filme chega no próximo ano), dirigida pelo genial Christopher Nolan. Antes, porém, de Nolan redifinir o herói nos cinemas, o morcegão pagou micaços. E não falo da tosca, mas divertida, série televisiva dos anos 60 estrelada pelo barrigudinho Adam West como o homem morcego, mas  da quadrilogia original da primeira metade dos anos 90, que mesmo sendo super-produções de luxo, com elenco estrelar, que fizeram enorme sucesso de bilheterias,  não levaram o herói tão a sério e alguns filmes, ridicularizam o morcegão e todos os personagens da fictícia Gotham City. Como estamos começando a semana da criança, nada como homenagear a garotada trazendo aqui os comentários desta quadrilogia que infantilizou um dos heróis mais obscuros dos quadrinhos.

E como infantilizou! Afinal, os filmes do morcegão pré-Nolan,  não lembram em nada a saga do herói dos quadrinhos que mora e atua em Gotham City, uma metrópole extremamente violenta, tem sua origem ligada ao brutal assassinato de seus pais e arqui-inimigos psicóticos e cruéis. Logo, perto de seu universo nos quadrinhos, os filmes da quadrilogia, em especial os dois últimos, são contos de fada. Santa paciência, Batman! Vamos ao que interessa.

Em 1989, o morcegão fez sua grande estreia nas telonas (na verdade estreiou mesmo num longa metragem da série televisiva dos anos 60, mas por hora, vamos abafar o caso), em grande estilo em Batman, um fillme-evento dirigido por Tim Burton, que redifiniu os blockbusters e toda campanha de marketing por trás das mega-produções como essa. A bizarrice, tão comum ao diretor, começa na escalação do elenco. Para  desespero dos fãs dos quadrinhos, Burton contrata Michael Keaton, um talentoso ator, mas, até então, com experiência em comédia e sem nenhum porte físico para viver o herói, e o grande ator Jack Nicholson, para interpretar o seu maior arqui-inimigo, o Coringa. Completa o elenco, a sex-symbol da época Kim Basinger, vivendo a namorada do herói, Vicky Vale, o saudoso Jack Palance e o sumido Billy Dee Williams, entre outros.

Na trama, conhecemos a trágica origem do homem-morcego e, paralelamente, do Coringa, onde no filme, um deu origem ao outro. O roteiro é muito interessante, e as ótimas interpretações fazem até o mais xiita fã dos quadrinhos, perdoar as distorções das origens do herói e do vilão, e a escalação bizarra. Nicholson, é o grande destaque, roubando a cena como um cínico e doentio Coringa, mesmo sendo um pouco velho e acima do peso para viver o personagem. Keaton, supreende e convence como o morcegão, e Basinger, cumpre a sua missão de ser colírio para os olhos e dar uns clássicos gritinhos de mocinha em perigo.

Outro ponto positivo do filme é a trilha sonora empolgante, composta e cantada pelo sumido Prince,  e está entre as mais memoráveis e dançantes da história do cinema. Esta trilha amplamente tocada na época, junto com outros milhares de produtos relacionados aos filme, redifiniram toda estratégia de marketing de um blockbuster. Mas, é na parte técnica que Batman supreende. A Gotham gótica da visão de Burton é perfeita, e recria todo climão pesado dos quadrinhos. O Batmóvel e as outras bugigangas usadas pelo herói também. Mas, em contrapartida, incomoda bastante a cabeça imóvel do uniforme do morcegão, o que acabou estragando algumas cenas de ação.

Empolgante, envolvente e com muita ação, Batman é disparado o melhor filme da quadrilogia. Um filmaço que consegue reunir todos os elementos de um blockbuster, sem deixar de lado a marca do seu genial diretor. Uma proeza raríssima na sétima arte. Para ser visto e revisto.


Com o estrondoso sucesso de bilheteria, em 1992, Burton volta a dar o seu toque pessoal ao universo do morcegão, em Batman - O Retorno, trazendo de volta Michael Keaton no papel do herói e recrutando o impagável Danny DeVito para interpretar o vilão Pinguim e Michelle Pfeiffer, que redifiniu a partir deste filme a vilã Mulher Gato.

Na trama, um milionário inescrupuloso (Chistopher Walken,  como sempre excepcional), resolve lançar como candidato a prefeito de Gotham, o grotesco Pinguim (DeVito, supreendente), uma figura abandonada pelos pais, sendo criado no esgosto. Paralelamente, o mesmo milionário detorna com sua secretária Selina (Pfeiffer, ótima), que sobrevive e torna-se a sensual Mulher-Gato. Os dois vilões começam a aprontar em Gotham, fazendo o morcegão  entrar em cena, para acabar com a folia vilanesca.

O filme consegue ser tão bom quanto o primeiro. Mais a vontade na franquia, o estilo Burton ainda é mais forte aqui, graças a fotografia cada vez mais escura, o cenário mais gótico e a visão pessoal do diretor para os personagens, principalmente a supreendente e repugnante caracterização do Pinguim, muito bem maquiado que só acrescentou a brilhante interpretação de DeVito, e a sensual e dominatrix caracterização da Mulher-Gato, tão bem encarnada por Pfeiffer.

Apesar de ser ligeiramente inferior ao original, Batman - O Retorno é um filmaço divertido, com ação do começo ao fim. Empolgante e envolvente, é outro excelente filme, que merece ser visto e revisto.


Apesar de um pouco amenizado em comparação aos quadrinhos, a saga do Morcegão conduzida por Tim Burton ia bem, até que os produtores resolveram fazer um terceiro filme e o genial diretor decide ficar apenas na produção, passando a batuta para o imprevisível Joel Schumacher. Em 1995, Batman Eternamente chega as telonas, com muitas novidades. A começar pelo interprete do homem-morcego. Sai Michael Keaton, que entrou em divergência com Schumacher antes do início das filmagens e entra Val Kilmer, também ótimo ator, que tinha a vantagem de ter o porte físico para viver o herói, mas totalmente deslocado, sendo, na minha opinião, a pior interpretação do homem-morcego de todos os tempos, superando até mesmo Adam West da série televisiva sessentista.

Mais deslocado que ele estão Tommy Lee Jones, como o vilão Duas-Caras, Nicole Kidman, como a Dra. Chase Meridan, a nova namorada do herói e, principalmente, Jim Carrey, caricato e totalmente sem graça, como um afetado Charada, numa das piores caracterização de um personagem dos quadrinhos de todos os tempos.

Na trama, o herói está passando por um crise de neura, sem nexo, devido ao trauma da morte dos pais, tendo o auxílio mais que terapêutico da Dra. Meridan (Kidman, linda, mas totalmente perdida na personagem). Numa ida ao circo, surge em seu caminho, o jovem Dick Grayson (Chris O'Donell, esforçado, mas  um pouco velhinho para o personagem), jovem artista acolhido por Bruce Wayne após sua família circense ser assassinada pelo Duas-Caras (Jones, caricato e impressionantemente péssimo). Ao descobrir à identidade do herói, o garotão não tão garotão assim, se torna o herói Robin. Paralelamente, um tosco cientista das Indústria Wayne, surta e torna-se o vilão Charada. Os dois vilões se unem, para através de uma máquina esquisita descobrir a identidade do morcegão e destrui-lo.

Nada funciona neste filme, que troca o climão gótico firmado por Burton por um tom mais carnavelesco. O roteiro é fraco e, em alguns momentos, parece mais uma paródia do que um filme de herói. Quem se ferrou direitinho foram os ótimos atores escalados para este filme patético, que macharam sua filmografia com um filme tão descartável  e patético, principalmente, Carrey que paga um micaço, com colante ridículo e imoral, e uma interpretação tosca, que mais parece uma imitação barata e bastante afeminada de Ace Ventura e O Máskara, dois de seus personagens cômicos mais memoráveis. 
Batman Eternamente  faz jus a regra dos terceiros filmes serem o mais fraco da franquia e, ainda por cima, encabeça esta tão lastimável lista. Um filme bobo, que nada lembra os dois anteriores, e, principalmente, sua fonte dos quadrinhos. Totalmente descartável, que serve apenas pelo mórbido desejo de ver grandes atores como Val Kilmer, Nicole Kidman e, principalmente,Tommy Lee Jones e Jim Carrey, pagando micaços, com interpretações toscas e ridicularemente caracterizados. Ah, curiosamente, outra que paga um micaço é Drew Barrymore que faz uma pequena participação como uma assistente do vilão Duas-Caras. Pelo menos o mico dela é menor que os demais envolvidos. Enfim, um filme para ser esquecido.



Apesar de ser tão decepcionante, o terceiro filme fez sucesso de bilheteria e o mico voltou com tudo, em 1997, com  Batman e Robin. Schumacher volta a desastrosa direção, trazendo mais astros e estrelas hollywoodianas para pagar verdadeiros King Kong na sua versão ainda mais carnavelesca e patética para o homem morcego. Val Kilmer, ao contrário de Chris O'Donnell, usou a cabeça e pulou fora, dando lugar a George Clooney, que tinha tudo para emplacar no personagem (para mim, da quadrilogia, ele é o melhor interprete do morcegão). Afinal, além de ser um ótimo ator, Clooney tem todo carisma e charme para viver o morcegão e o seu alter-ego

Se Schumacher acertou na escolha de Clooney, pisou na bola feio escalando Arnold Schwarzenegger para viver o vilão Sr. Frio, personagem que Stallone chegou a declarar que daria um braço para fazê-lo (o mico seria ainda maior), Uma Thuman para ser a vilã Hera Venenosa e a ex-Patricinha de Bervely Hills, Alicia Silvestone, para viver uma Batgirl, totalmente desnecessária e fora do contexto da trama e de suas características originais.

Num roteiro ainda mais fraco e risível que o filme anterior, a dupla dinâmica logo de cara tem que encarar o Sr. Frio (Schwarzenegger, patético, no pior personagem da sua carreira), que deseja congelar toda Gotham. Paralelamente, uma botânica sofre um acidente num laboratório de um tosco cientista (interpretado por John Glover, que anos depois faria o vilão Lionel Luthor, no seriado Smallville), tornando-se a vilã femme fatale Hera Venenosa (Thurman, totalmente ridícula na personagem),  que com seu charme sedutor, coloca pimenta na relação de amizade da dupla de heróis. Para salvá-los, surge a Batgirl, que ao contrário dos quadrinhos e do seriado de TV, não é a filha do Comissário Gordon, mas a sobrinha do fiel modormo Alfred (o saudoso e competente Michael Gough, que junto com Pat Hingle que viveu o Comissário Gordon, foram os dois únicos atores presentes em todos os filmes da quadrilogia).

O filme tem mais ação que o seu antecessor, único motivo de escapar, por um triz, do título do pior filme da franquia (ao menos para mim, já que a maioria acha que este é o pior). O filme tem um péssimo roteiro, que tornou a saga do homem-morcego ainda mais carnavalesca e imbecilizada, a ponto de recorrer ao pastelão, da tosca série cult dos anos 60 e a piadinha ridicula dita por Batman (É por isso que o Super-Homem trabalha sozinho), logo na sua primeira cena, após Robin pedir um batmóvel. E tudo só piora, ao distorcer por completo a origem de alguns personagens. Além da Batgirl (que apesar da péssima atuação e presença descartável, é inegável que Silvestone é uma das mais lindas  atrizes a dar vida a heroína), que como foi dito acima tornou-se uma sobrinha do Alfred, que inexplicávelmente surgiu do nada, o vilão Bane (vivido pelo falecido lutador Jeep Swenson) que nos quadrinhos colocou o morcegão numa cadeira de rodas, neste tosco filme não passa de um bobão guarda-costa da tosca e chatíssima Hera, que entra mudo e sai calado, totalmente deslocado da trama.

Num elenco milionário, com cinco protagonistas, ninguém escapa da mediocridade, apesar de Clooney e O'Donnell, se esforçarem um pouco mais para tentar dar alguma dignidade a produção. Mas, nenhum esforço do mundo é capaz de superar e escapar das armadilhas de um roteiro tosco e das péssimas e patéticas atuações de Schwarzenegger, Silvestone e principalmente, de Uma Thurman. Na tentativa de fazê-la tão sensual e provocante que a Mulher-Gato de Michelle Pfeiffer, o tiro acabou saindo pela culatra, fazendo da Hera Venenosa uma versão feminina do tosco  e chatissimo Charada de Jim Carrey, no filme anterior. Patética e totalmente sem graça, a personagem causa repulsa e risadas, ao invés de ser sensual, conquistar e mexer com a plateia masculina.

Em síntese, um filminho infantil e sem graça, que com certeza não agrada nem mesmo a pirralhada. Não é por acaso que o filme está encabeçando várias listas oficiais dos piores filmes de todos os tempos. O filme serviu para queimar e enterrar de vez a franquia do morcegão,  que foi renascida das cinzas, em grande estilo pelas mãos do talentoso Christopher Nolan. Apesar de ser uma mega-produção repleta de astros e estrelas milionários, Batman e Robin consegue a proeza de ser mais tosco que a série televisiva dos anos 60 e nos deixando morrendo de saudades da mesma.



Curiosamente, mesmo sendo os mais fracos desta quadrilogia e de ridicularizarem o  universo do homem-morcego, Batman Eternamente e Batman e Robin, sempre aparecem na telinha do SBT. Se você tem a sórdida e cruel curiosidade de ver grandes astros do cinema pagando um micaço, a maioria nos papéis mais contrangedores de suas carreiras (caso de Tommy Lee Jones, Jim Carrey, Arnold Schwarzenegger e Uma Thurman), é só ficar atento a programação da emissora do Sílvio Santos, que de tempo em tempos, estas pérolas da mediocridade pintam nas sessões Cine Espertacular e Tela de Sucessos.

Apesar do herói não ser levado à sério na sua quadrilogia original, é inegável que todos nós nos divertimos com as versões de Burton (principalmente) e de Schumacher (nem tanto) para o morcegão. Mesmo com as falhas grotescas no roteiro e as toscas interpretações nos dois últimos filmes, a quadrilogia original ainda diverte e ainda empolga até hoje os fãs dos filmes de ação e aventura, que não são tão exigentes como os apaixonados por quadrinhos. Como já disse em outra postagem sobre filmes de super-heróis, se os criadores aprovam e liberam os direitos autorais, não será um fã apaixonado de quadrinhos que deverá ficar ofendido com versões que fogem totalmente as fontes originais. Como diz Marta Suplicy: "Relaxa e goza!".

Devemos lembrar que apesar de todas as falhas toscas,  a quadrilogia do morcegão tem um papel importante na história do cinema, já que serviu para os produtores hollywoodianos despertarem para os filmes baseados em heróis dos quadrinhos, fiéis ou não as suas origens, são bastante lucrativos., logo, devem ser produzidos. Sem dúvida, a quadrilogia do morcegão foi só o estopim, para a atual invasão dos super-heróis dos quadrinhos nas telonas, inclusive com o morcegão, finalmente ganhando uma nova franquia, desta vez a sua altura. Enfim, há males que vêm para o bem. E a quadrilogia do morcegão, sem dúvida, é um deles.

Rick Pinheiro.
Cinéfilo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário